Serve-se um olhar mundano e libertino. Serve-se uma arrogância sonhadora e juvenil. Serve-se uma ironia coerente e um humor valorativo. Serve-se tradição e modernidade. Serve-se na condição humana, Brinda-se com a casmurrice pessoal!

22
Jan 09

Tal como o resto do mundo, também os meus olhos e esperança se concentraram naquele político negro que trata as palavras com a mestria e delicadeza de um músico que toca um instrumento de cordas.

 

O patriotismo elogiado daqueles dezoito minutos, bem como dos dois anos que ficaram para trás, deixa-nos transtornados tal a inveja que nos cria pela América. América nome pessoal. América que se quer reerguida. América que se quer dialogante. América ponto.

 

Mais do que a tamanha crise em mãos. Mais do que a moral e orgulho de um povo por terra deixado e maltratado. Mais do que a situação geopolítica internacional. Mais do que qualquer outro problema, o maior desafio de Obama será conseguir corresponder às expectativas de todo o globo azul que carrega às suas costas, tal a fé em si depositada.

 

Não duvido das suas intenções. Não duvido das suas capacidades. Não duvido dos seus valores, no amor pela família e pelos outros sustentados. Duvido, sim, do titânico e infernal peso das expectativas globais.

 

Espero, sinceramente, que o tempo venha a revelá-las não só correspondidas, mas também ultrapassadas.

 

Por outro lado, não tenho dúvidas que a história contemporânea relembrará Bush de uma forma muito mais positiva e agradecida, do que aquela que hoje não conseguimos ter.

 

Os seus erros foram muitos. Graves. Catastróficos. Mas, para mim, o maior erro de todos foi julgá-lo burro. Se há coisa que Bush, de uma família de elevada educação e tradição americana, não é, é estúpido. Pelo contrário. Bush é deveras inteligente, e foi-o na forma como se dirigiu ao americano comum: rebaixando-se e ridicularizando-se a si próprio.

 

Por isso, partilho de certa forma, nunca o absolvendo das atrocidades resultantes das más decisões tomadas, mas partilho do sentimento de compaixão por Bush que João Pereira Coutinho bem deu forma no segmento “Purgatório” da sua crónica na revista Única de 17/01/2009:

 

“Tenho uma certa compaixão por Bush. Dificilmente encontro político contemporâneo mais trágico, no verdadeiro sentido da palavra “tragédia”: alguém que vê a contingência a desabar sobre a sua cabeça atordoada e imponente. Em 2001, o homem entrava na Casa Branca com uma agenda simpática (um “conservador passivo”, lembram-se?) e uma política internacional quase isolacionista, depois das aventuras de Clinton. Coitado. Mal ele sabia que o 11 de Setembro vinha a caminho. E o Afeganistão. E o Iraque. E uma crise económica e financeira como não se via há décadas.(…) Perante tudo isto, o mundo não perdeu tempo e desatou a culpar a personagem pela violência do acaso. Faz parte do pensamento primitivo atribuir as desgraças terrenas aos caprichos das divindades. Lévi-Strauss explica. O que ninguém explica é se teria sido possível fazer diferente, ou melhor: antecipar o 11 de Setembro; não atacar o Iraque, quando toda a gente acreditava no perigo de Saddam; e, já agora, evitar a loucura geral de consumidores e banqueiros, uma febre que começou com Clinton. Na próxima terça-feira, o mundo despede-se de Bush. Com um suspiro de alívio. Mas o mundo não se iluda. Os problemas não começaram com Bush e não terminarão com Bush. É por isso que, na hora do adeus, eu acredito que o maior suspiro será o dele”.

 

publicado por Casmurro às 21:54

20
Jan 09

A ausência foi longa. O regresso, porém, espera-se maior e mais regular.

 

Por vezes apetece dizer tanto. Não parar de escrever ou de falar. Confesso ser este um meu vício/tentação. Não a parte oral. Prezo demasiado, em determinadas situações, o meu silêncio, ou o silêncio momentâneo a dois que não é desconfortável mas sinónimo de confiança e complementaridade. Sim, antes, a parte escrita.

 

Às vezes apetece escrever tudo o que nos sai encarrilado, somente com o objectivo de embelezar.

 

Escreveu, a certa altura da sua crónica semanal na revista Única de 03/01/2009, Inês Pedrosa que:

 

"Os bem-falantes não são os que mais dizem, mas os que criam, através de um discurso envolvente e mistificador - sem cuidar dessa frioleira intelectual que é a realidade - uma ilusão de proximidade com as pessoas".

 

Esta é uma das lições que tenho sentido mais fortemente na minha experiência profissional actual. Apetece-me dizer mais, apetece-me, principalmente, escrever mais e melhor, adornar para cativar e ser reconhecido. Mas não é assim que chego, na maior parte das vezes, a essa relação de proximidade com os outros.

 

É evidente que esta envolvência depende sempre do público-alvo.

 

Mas fica um desafio pessoal para este ano. Através da escrita (e da fala) criar uma maior envolvência e mistificação nessa ilusão de proximidade com os outros. Tome este desafio as formas e contornos que tomar, cá estarei casmurramente para o enfrentar com atitude.

 

publicado por Casmurro às 21:33

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