Serve-se um olhar mundano e libertino. Serve-se uma arrogância sonhadora e juvenil. Serve-se uma ironia coerente e um humor valorativo. Serve-se tradição e modernidade. Serve-se na condição humana, Brinda-se com a casmurrice pessoal!

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Mai 10

Hoje, como prato do dia, sirvo uma crónica publicada no Jornal I no dia 27 de Abril de 2010, que me captou bastante a atenção, que me fez debruçar mais uma vez sobre o poder e importância da palavra, principalmente no contexto amoroso:

 

"Amar em Pleno

O amor precisa das palavras para testar a sinceridade. Uma relação duradoura exige que se diga muitas vezes "amo-te"

 

No livro "O Amante", de Marguerite Duras, a protagonista, uma rapariga francesa de 16 anos que vive na Indochina, torna-se amante de um jovem chinês rico e tem com ele uma experiência erótica perturbadora. Mas não sabe se está apaixonada. Porque ele é chinês. Só quando está no navio que a leva de volta à pátria, a ouvir Chopin, terá uma crise de choro imparável e perceberá que o amava. Nos dois anos que se seguem envelhece rapidamente porque então o seu coração e o seu corpo percebem que perderam algo que não voltarão a encontrar.

Refiro este livro para demonstrar que o amor, qual furacão de sensações e sentimentos, deve tornar-se logos, conceito, palavra. Enquanto não sei amar e enquanto não digo "amo-te", não amo plenamente. Enquanto não me identifico com o outro e não faço minhas a sua vida, história, sensações e sonhos, ainda estou na antecâmara do amor. E, para que o amor seja completo, também tenho que saber distinguir o meu desejo do dele, o meu sentimento do dele. Não posso atribuir-lhe as minhas emoções e pensar que ele deseja o mesmo que eu. Devo perguntar-lhe o que pensa, o que deseja, o que quer. Devo aceitar, até ao fim, a liberdade dele. E ele a minha. O amor é o encontro milagroso de duas vontades livres. É por isso que é uma descoberta contínua do outro e que cada encontro nos parece uma dádiva e uma graça, e sempre inovador.

Quantos erros e sofrimento se instalam entre marido e mulher ou entre amantes quando cada um deles pretende saber o que quer o outro e o que lhe é imposto pelos desejos dele. Muitos acham que o amor é suficiente para compreenderem e serem compreendidos. Que bastam olhares, gestos, abraços, carícias, silêncios, alusões. Então porque é que quando há um acontecimento novo num casal, como o nascimento de uma criança, há uma explosão de drama? Vem-me à ideia uma mulher que gritava: "Porque choras sempre que não percebes o que te está a acontecer, porque pareces uma louca histérica? Como explicas o que se passa ao teu companheiro?" No entanto, a resposta é simples: "Com palavras. Dizendo-lhe que estás mal, pedindo-lhe ajuda."

Ah, o dom divino da palavra! Ao estudar como um grande amor apaixonado pode durar muitos anos descobri que a palavra é essencial, a ponto de chamar ao meu último livro "O Diálogo dos Amantes". A grande paixão dura porque nos conhecemos profundamente a nós mesmos e ao ser amado. Respeitando a liberdade dele e dizendo-lhe a verdade."

Francesco Alberoni, Sociólogo e jornalista

publicado por Casmurro às 17:22

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