Serve-se um olhar mundano e libertino. Serve-se uma arrogância sonhadora e juvenil. Serve-se uma ironia coerente e um humor valorativo. Serve-se tradição e modernidade. Serve-se na condição humana, Brinda-se com a casmurrice pessoal!

10
Jun 10

Certo dia alguém me disse que, a cumplicidade entre duas pessoas se denota flagrantemente quando os momentos de silêncio a dois não são incómodos nem desajeitadamente evitados e indesejados.

 

Concordo, e penso nisto quando, a dois, mesmo nos momentos de partilha silenciosa, não existe constrangimento nem vergonha, fruindo ao máximo a companhia um do outro, crescendo em cumplicidade e complementaridade.

 

Muitos Parabéns C!

publicado por Casmurro às 04:19

25
Mai 10

Hoje, como prato do dia, sirvo uma crónica publicada no Jornal I no dia 27 de Abril de 2010, que me captou bastante a atenção, que me fez debruçar mais uma vez sobre o poder e importância da palavra, principalmente no contexto amoroso:

 

"Amar em Pleno

O amor precisa das palavras para testar a sinceridade. Uma relação duradoura exige que se diga muitas vezes "amo-te"

 

No livro "O Amante", de Marguerite Duras, a protagonista, uma rapariga francesa de 16 anos que vive na Indochina, torna-se amante de um jovem chinês rico e tem com ele uma experiência erótica perturbadora. Mas não sabe se está apaixonada. Porque ele é chinês. Só quando está no navio que a leva de volta à pátria, a ouvir Chopin, terá uma crise de choro imparável e perceberá que o amava. Nos dois anos que se seguem envelhece rapidamente porque então o seu coração e o seu corpo percebem que perderam algo que não voltarão a encontrar.

Refiro este livro para demonstrar que o amor, qual furacão de sensações e sentimentos, deve tornar-se logos, conceito, palavra. Enquanto não sei amar e enquanto não digo "amo-te", não amo plenamente. Enquanto não me identifico com o outro e não faço minhas a sua vida, história, sensações e sonhos, ainda estou na antecâmara do amor. E, para que o amor seja completo, também tenho que saber distinguir o meu desejo do dele, o meu sentimento do dele. Não posso atribuir-lhe as minhas emoções e pensar que ele deseja o mesmo que eu. Devo perguntar-lhe o que pensa, o que deseja, o que quer. Devo aceitar, até ao fim, a liberdade dele. E ele a minha. O amor é o encontro milagroso de duas vontades livres. É por isso que é uma descoberta contínua do outro e que cada encontro nos parece uma dádiva e uma graça, e sempre inovador.

Quantos erros e sofrimento se instalam entre marido e mulher ou entre amantes quando cada um deles pretende saber o que quer o outro e o que lhe é imposto pelos desejos dele. Muitos acham que o amor é suficiente para compreenderem e serem compreendidos. Que bastam olhares, gestos, abraços, carícias, silêncios, alusões. Então porque é que quando há um acontecimento novo num casal, como o nascimento de uma criança, há uma explosão de drama? Vem-me à ideia uma mulher que gritava: "Porque choras sempre que não percebes o que te está a acontecer, porque pareces uma louca histérica? Como explicas o que se passa ao teu companheiro?" No entanto, a resposta é simples: "Com palavras. Dizendo-lhe que estás mal, pedindo-lhe ajuda."

Ah, o dom divino da palavra! Ao estudar como um grande amor apaixonado pode durar muitos anos descobri que a palavra é essencial, a ponto de chamar ao meu último livro "O Diálogo dos Amantes". A grande paixão dura porque nos conhecemos profundamente a nós mesmos e ao ser amado. Respeitando a liberdade dele e dizendo-lhe a verdade."

Francesco Alberoni, Sociólogo e jornalista

publicado por Casmurro às 17:22

26
Abr 10

Sentado no chão, de olhar distante e erguido, de costas bem assentes numa parede velha e poeirenta desgastada pelo passar do tempo, à porta desta casa contempla-se bem o luar e as estrelas que a cada e nova noite iluminam teimosamente o céu.

 

O ruído de uma antiga mas portentosa portada de madeira preenche o espaço em redor, enquanto esta se vê novamente empurrada por duas mãos que há muito já não sentia.

 

O frio da noite e a luz da lua entram sem demora Estalagem a dentro, quais dois amados há muito afastados correndo entusiasticamente na direcção do outro, na ânsia de se preencherem outra vez...

 

 

 

É agradável perceber que certos momentos da nossa vida são muito mais deliciosos e muito mais plenos de sentimento quando partilhados com as devidas pessoas.

 

É encantador esta casa voltar a ser iluminada de vida.


publicado por Casmurro às 01:48

03
Nov 09

"Sim, não há dúvida; eu sou apenas um viajante, um peregrino no mundo.

  Mas vós? Sereis acaso mais do que isso?"

 

Werther, J.W. Gothe

 

publicado por Casmurro às 23:56

01
Nov 09

Que perdi a minha espontaneidade natural de reacção momentânea?

 

Que desisti de voar lá bem em cima no patamar dos meus cândidos sonhos?

 

Que pus de lado a paixão pessoal de agarrar cada momento sem preocupação pelo labirinto subsequente?

 

publicado por Casmurro às 01:06

21
Out 09

Porque em certos momentos um simples gesto conta mais que uma adornada palavra. Porque em certos momentos é necessário ao Homem, para ser Homem, concretizar as palavras em gestos. Porque em certos momentos nos encontramos parados na vida, dançando para um lado ou para o outro conforme os fios que nos prendem, sem consciência para dar por vontade própria um passo em frente ou dois atrás. Porque em certos momentos dançamos alegremente tolos como uma marioneta.

 

“Na perspectiva anti-iluminista kleistiana, o homem, tendo perdido o seu estado originário instintivo e optado pela razão, viu-se confrontado com uma fractura entre o eu e o mundo, entre o interior e o exterior. A conquista da reflexão significou a perda essencial do seu centro de gravidade. Ora, na dança da marioneta, o gesto conta muito mais que a palavra, porque responde a uma lei e a uma força anteriores (como a beleza evocada por Hölderlin). A dança da marioneta é um acontecimento que torna presente a unidade do Todo, que faz emergir a Graça (a simetria, a mobilidade, a leveza), entendida em sentido estritamente artístico e capaz de restaurar uma condição inicial em que o corpo não possui ainda consciência.”

 

Na crítica de António Guerreiro à obra  de Heinrich von Kleist “Sobre O Teatro De Marionetas E Outros Ensaios”, In Actual Nº 1917.

publicado por Casmurro às 00:01

09
Out 09

Pequenas e humildes reacções da vencedora do Nobel da Literatura de 2009, Herta Müller:

 

"Agora estou a pensar que quem ganhou não fui eu, foram livros, e não a minha pessoa, e julgo que é a melhor forma de lidar com a situação".

 

"Nos meus livros, reflecti sempre sobre como é que uma mão cheia de poderosos usurpam um país, a ponto de o país desaparecer e ficar só o Estado(...)porque os autores não escolhem os seus temas, são eles que vão ao seu encontro".

 

"Para escrever é preciso uma intimidade com uma língua (que não tenho com o romeno, só com o alemão)".

 

 

 

E no que aos prémios Nobel diz respeito, um sempre importante e conveniente esclarecimento aqui, em sentido inverso ao que muitas vezes acabamos por ler ou ouvir por aí.

 

publicado por Casmurro às 00:20

06
Out 09

 

"Nunca se mente tanto como em véspera de eleições, durante a guerra e depois da caça"

 

Otto von Bismarck

 

publicado por Casmurro às 22:46

29
Ago 09

 Em época política fervorosa e de crescente campanha eleitoral, e para alguém que estudou e chegou inclusive a apresentar trabalhos académicos sobre o conceito habermesiano de esfera pública, chamou-me a atenção esta pequena citação de Madame Roland (1754-1793):

 

 "O fraco treme diante da opinião pública, o louco afronta-a, o sábio julga-a, o homem hábil dirige-a".

 

publicado por Casmurro às 03:04

17
Ago 09

 

 

 

(Com o devido crédito aos pacotes de açúcar da Nicola)

publicado por Casmurro às 23:32

01
Abr 09

No início de mais uma pequena marcante caminhada:

 

"Era a época em que eu vagueava faminto por (...), essa cidade curiosa donde ninguém parte sem levar consigo uma marca indelével..."

 

Inínio de "Fome" - Knut Hamsun

 

 

Sinto-me feliz por mais uma oportunidade de poder substituir na minha vida as (...) desta citação por mais uma experiência concreta que me conforta e apraz a imensa fome actual de procura por novos momentos sentidos e com sentido.


 

publicado por Casmurro às 00:54

28
Mar 09

Até que ponto estamos condenados a optar entre o êxito social imoral e o fracasso moral pessoal?

 

publicado por Casmurro às 00:05

16
Mar 09

“Veio-lhe então à cabeça uma história que escutara uma vez, não recordava onde, mas que não fora da boca de Demodoco. Hefaístos esculpiu a estátua de uma mulher formosíssima à qual Zeus infundiu o dom da vida. Cada um dos outros deuses, seguindo o seu exemplo, ofereceu-lhe um dom diferente, pelo que ela veio a chamar-se Pandora, o que significa “todos os dons”. Zeus entregou-lhe então um pequeno cofre de marfim com uma serpente de ouro incrustada à volta e a expressa proibição de o abrir. A curiosidade, como no caso de Psique, foi mais forte do que Pandora, a qual não resistiu à tentação de saber o que continha e levantou a tampa apenas o necessário para espreitar o seu interior. Quando o fez, uma estranha nuvem de fumo, uma espécie de sinistra neblina, deslizou para o exterior. Pandora fechou-o imediatamente, mas já era tarde. O mal já estava feito. Todas as baixezas da alma humana, juntamente com os vícios e as enfermidades do corpo, haviam escapado da sua prisão e espalhavam-se pelo mundo. Só um passarinho com penas de cor esmeralda ficou preso no interior. Essa era a esperança. Desde então, os males andam livremente pela terra. E a esperança, presa no fundo do pequeno cofre, está negada aos homens.”

 

In "Tróia ao Entardecer" by Antonio Sarabia

 

Obviamente que não partilho da extrema negação conclusiva deste clássico mito grego. É impossível ao Homem viver sem esperança. Viver sem a mínima crença em algo ou alguém, sem um sentido interior, exterior, vivencial, pessoal ou grupal que funcione como uma espécie de rumo na sua vida.

 

Porém, esta bonita alegoria helénica, deteve-me, hoje, na reflexão de que também é fundamental e pessoalmente necessário ao bem-estar do Homem, que este corra por vezes atrás da sua esperança, caminhando o seu eterno e ziguezagueado trilho, ao invés da comum postura passiva esperançosa.

 

De uma forma mais simples e fácil de assimilar e cumprir: ter esperança, esperar, não é somente sentar e acreditar, mas também, e muito, partir à procura, e caminhar descobrindo (ou descobrir caminhando?).

 

publicado por Casmurro às 00:19

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